quarta-feira, agosto 17, 2005

Literatura (1).

“Ainda era confuso o estado das coisas do mundo, no tempo remoto em que esta história se passa. Não era raro defrontar-se com nomes, pensamentos, formas e instituições a que não correspondia nada de existente. E, por outro lado, o mundo pululava de objetos e faculdades e pessoas que não possuíam nome nem distinção do restante. Era uma época em que a vontade e a obstinação de existir, de deixar marcas, de provocar atrito com tudo aquilo que existe, não era inteiramente usada, dado que muitos não faziam nada com isso — por miséria ou ignorância ou porque tudo dava certo para eles do mesmo jeito — e assim uma certa quantidade andava perdida no vazio.” (p. 35)

O trecho acima do livro “O cavaleiro inexistente” de Italo Calvino consegue fazer sentido mesmo sendo separado de sua obra. Ele consegue resumir o que nossa sociedade pós-moderna está passando e foi transcrito aqui com uma intenção ousada: pensar um pouco mais sobre o presente.
Para quem quiser refletir mais, ou somente ler um bom livro, vale a pena ler toda a história. Um cavaleiro dos tempos de Carlos Magno que tem consciência e voz, mas não existe - alegoria do homem atual? - é o argumento de mais um bom livro de Calvino. A história faz parte da trilogia “Os nossos antepassados” que faz uma releitura de personagens da literatura medieval tratando de questões da atualidade. Também fazem parte desta trilogia os livros “O Visconde Partido ao Meio” e “O Barão nas Árvores”.

O Cavaleiro Inexistente
Italo Calvino
Cia das Letras


- Édina Girardi -