quinta-feira, novembro 24, 2005

Música (5)

"cantores sem pilchas de magros talentos”

Bom, como diria Luiz Marenco,“mesmo que o mundo desabe num tempo feio” aqui estou para escrever algo nesta noite que está “armada” para chover. Irei começar com um verso da poesia Meu Canto, de Jaime Caetano Braun:

“Meu canto guardo o estilo
das fontes da geografia
quando o gaúcho nascia
abarbarado e tranquilo;
meu canto é o canto do grilo,
dos tempos de antigamente
que pode ser estridente,
mas jamais ultrapassado,
porque o canto do passado
é o bebedor do presente!”


E com outro verso da poesia Gaita, de Apparicio Silva Rillo:

“Velha gaita fiel de duas falas,
intérprete crioula de emoções,
que chora na rudeza dos galpões
e ri de gosto no esplendor das salas!”


Por que introduzir o assunto com esses dois versos? Porque eles falam o que é e para que serve a verdadeira música tradicionalista gaúcha. A música gaúcha fala das tradições, dos costumes, dos sentimentos do povo do Rio Grande do Sul e sua história, e para isso utiliza vários ritmos: vanera, milonga, chamamé, rancheira, entre outros. Mas, infelizmente, essa música está tomando um rumo diferente.

Estão criando uma “música inovadora”, como afirmou um dos membros da banda Tchê Garotos em entrevista ao Fantástico, da Rede Globo, a Tchê Music (detalhe: nome escrito em inglês).
A Tchê Music é um estilo de música que reúne vários ritmos como o vanerão, axé, música latina, samba, forró e , a partir daí, “pega na colher e vai mexendo o panelão, vai mexendo o panelão, vai mexendo o panelão”, e depois de tudo misturado está pronta a Tchê Music. O problema está na miselânea de ritmos que ninguém sabe diferenciar o que é tradicional gaúcha do que é forró, axé, latina, só escuta-se letras com “melodias” de socadão, chevetão e pegadão, letras que muitas vezes apelão para a vulgaridade. E mais um outro problema, são tocadas em CTGs, Centro Tradicionalista Gaúcho. Quem gosta e faz a Tchê Music acredita que esta é uma nova forma de levar a cultura gaúcha ao público. Na hora de vender um cd vendem assim: “CD faz a moçada entrar no clima da música gaúcha. A música tradicional gaúcha não para de ganhar adeptos. O interessante é que até a juventude vem se interessando cada vez mais pelo mundo das bombachas, gaita e chimarrão. Este CD foi feito sob encomenda para quem tem curiosidade em conhecer um pouco sobre ritmos como chamamé, polca, milonga e guarânia...”


Por fim, concordo que possam ser criados outros estilos de músicas, porém questiono a confusão de valores e conceitos que acaba sendo construída devido ao modo como a Tchê Music é divulgada para um mesmo público e ocupando o mesmo espaço da música tradicionalista gaúcha. Penso, que a distinção entre Tchê Musica e música gaúcha, tem que estar bem definida, principalmente quando a primeira é exportada para os outros estados brasileiros. Melhor seria, se a Tchê Music fosse chamada de Brazil Music, vamos melhor ainda: Música do Brasil. Afinal, não é para gringo escutar. Caberia aqui, quem sabe, uma discussão semiológica do assunto, fica a sugestão.

As músicas:

Tchê Music: Tchê Garotos
Vai mexendo o panelão

Pegue na colher e vai mexendo o panelão
vai mexendo o panelão, vai mexendo o panelão
eu botei fogo embaixo dessa panela
e eu to grudado nela e dela nao vou mais largar
botei de tudo que pude pra dentro dela
e engrossei o caldo dela e de ferver nao vai parar
eu quero vero resultado da mistura
juntei coisa pura, e caprichei no tempero
a comidinha ja me deixou viciado
e eu to encantado, quero comer o tempo inteiro
pegue na colher e vai mexendo o panelão
vai mexendo o panelão, vai mexendo o panelão


Música Tradicionalista: Aparicio Silva Rillo/ Pedro Ortaça
Timbre de Galo

Rio Grande, berro de touro, quatro patas de cavalo
Quem não viveu este tempo, vive este tempo ao cantá-lo
Eu canto porque me agrada, este meu timbre de galo.

É verdade que alguns dizem, que os tempos hoje são outros
Que o campo é quase a cidade, meus chiripás estão rotos
Que as esporas silenciaram, na carne morta dos potros.

Cada um diz o que pensa, isso aprendi de infância
Mas nunca esqueça o herege, que as cidades de importância
Se esqueceram nos alicerces, dos portins e das estâncias.
Não esqueça de outra parte, para honrar a descendência,
Que tudo aquilo que muda, muda só nas aparências
Que até num bronze de praça, vive a raiz da querência.

Eu nasci no tempo errado, ou voltei muito depressa
Dei oh de casa em tapera, fiquei dizendo promessa
Mas se eu pudesse eu voltava, pra onde o Rio Grande começa.

E se me chamam de grosso, nem me bate a passarinha
Argila do mundo novo, não tem a mescla da minha
Sovado a casco de touro, com água de carquejinha.


Eu recomendo Luiz Marenco, Walter Morais, Os Mirins, José Cláudio Machado, caso queira realmente escutar a música tradicional gaúcha e dançar um verdadeiro fandango.

-Giovana Alvarenga-