Cinema (2)
“O Carteiro e o Poeta” (Il Postino)
- Don Pablo, bom dia! Quero falar com o senhor.
- Deve ser muito importante. Está bufando como um cavalo.
- É muito importante. Eu me apaixonei.
- Nada muito sério. Para isso tem remédio.
- Não! Remédio, não! Não quero remédio, quero ficar doente. Estou apaixonado! Apaixonado!
- Por quem está apaixonado?
- Ela se chama Beatrice.
Mario Ruoppolo, morador de uma remota ilha da Itália, é órfão de mãe, desempregado e filho de um pescador analfabeto. Esse homem resolve ser entregador de cartas e recebe uma insólita e exclusiva missão do gerente dos correios. Ruoppolo tem de entregar a correspondência ao célebre poeta chileno Pablo Neruda, exilado em uma casa no alto de um monte, próximo à vila de pescadores onde mora.
Que relação poderia se firmar entre um ilustre poeta e um pobre diabo que não tem água encanada para lavar as mãos?
Arquejando sobre o guidom da bicicleta, usando um quepe que lhe parecia uma coroa de rei, o protagonista vê, na tarefa, a oportunidade de crescer como pessoa.
O intelectual comunista parece entender o desejo daquele homem humilde e lhe dedica atenção. Neruda ajuda Mario a conquistar sua amada e assim o carteiro e o poeta se tornam amigos.
A narrativa segue emocionante, mas o sentido que o filme construiu para mim é o da luta contra a ignorância. A tia da mulher amada, que satanizou a poesia de Neruda e as intenções de Mario para com Beatrice, define a extensão das posses do carteiro:
- É um homem cujo único capital são os fungos nos dedos dos pés.
(A tia rabugenta esquecera da bicicleta que Mário usava para entregar a correspondência de Neruda).
Mas a história se encarrega de mostrar o equívoco da velha. Mario transforma sua maneira de ver o mundo a partir das palavras, das metáforas, e da poesia de seu amigo. A grandeza de espírito lhe enriquece a vida.
Mario Ruoppolo me fez lembrar de nossas discussões em aula. Uma pessoa humilde, sem condições básicas de sobrevivência, sem escolaridade, pode se interessar em apreciar a arte? A literatura e a música podem fazer parte do cotidiano daqueles que não sabem se comerão amanhã? “O Carteiro e o Poeta” argumenta que sim. Mario não aceitou que a condição de pobre determinasse sua vida à ignorância. Mal sabia ler até conhecer Neruda, mas acreditou que a poesia poderia ajuda-lo a resolver um problema de sua vida pessoal: Conquistar a mulher por quem se apaixonou.
Com a poesia, o carteiro sentiu sua vida ter mais sentido. Seu coração e sua alma alçaram vôo, apesar de continuar pobre.
- Meu caro poeta, você me meteu nessa confusão e agora vai me tirar dela. Você me deu livros para ler. Ensinou-me a usar a língua não só para lamber selos. É sua culpa, eu estar apaixonado.
O filme terminou e levei as costas dos dedos até os cantos dos olhos na tarde cinzenta de domingo.
Bonito filme!
-Gustavo Hennemann-
“O Carteiro e o Poeta” (Il Postino)
- Don Pablo, bom dia! Quero falar com o senhor.
- Deve ser muito importante. Está bufando como um cavalo.
- É muito importante. Eu me apaixonei.
- Nada muito sério. Para isso tem remédio.
- Não! Remédio, não! Não quero remédio, quero ficar doente. Estou apaixonado! Apaixonado!
- Por quem está apaixonado?
- Ela se chama Beatrice.
Mario Ruoppolo, morador de uma remota ilha da Itália, é órfão de mãe, desempregado e filho de um pescador analfabeto. Esse homem resolve ser entregador de cartas e recebe uma insólita e exclusiva missão do gerente dos correios. Ruoppolo tem de entregar a correspondência ao célebre poeta chileno Pablo Neruda, exilado em uma casa no alto de um monte, próximo à vila de pescadores onde mora.
Que relação poderia se firmar entre um ilustre poeta e um pobre diabo que não tem água encanada para lavar as mãos?
Arquejando sobre o guidom da bicicleta, usando um quepe que lhe parecia uma coroa de rei, o protagonista vê, na tarefa, a oportunidade de crescer como pessoa.
O intelectual comunista parece entender o desejo daquele homem humilde e lhe dedica atenção. Neruda ajuda Mario a conquistar sua amada e assim o carteiro e o poeta se tornam amigos.
A narrativa segue emocionante, mas o sentido que o filme construiu para mim é o da luta contra a ignorância. A tia da mulher amada, que satanizou a poesia de Neruda e as intenções de Mario para com Beatrice, define a extensão das posses do carteiro:
- É um homem cujo único capital são os fungos nos dedos dos pés.
(A tia rabugenta esquecera da bicicleta que Mário usava para entregar a correspondência de Neruda).
Mas a história se encarrega de mostrar o equívoco da velha. Mario transforma sua maneira de ver o mundo a partir das palavras, das metáforas, e da poesia de seu amigo. A grandeza de espírito lhe enriquece a vida.
Mario Ruoppolo me fez lembrar de nossas discussões em aula. Uma pessoa humilde, sem condições básicas de sobrevivência, sem escolaridade, pode se interessar em apreciar a arte? A literatura e a música podem fazer parte do cotidiano daqueles que não sabem se comerão amanhã? “O Carteiro e o Poeta” argumenta que sim. Mario não aceitou que a condição de pobre determinasse sua vida à ignorância. Mal sabia ler até conhecer Neruda, mas acreditou que a poesia poderia ajuda-lo a resolver um problema de sua vida pessoal: Conquistar a mulher por quem se apaixonou.
Com a poesia, o carteiro sentiu sua vida ter mais sentido. Seu coração e sua alma alçaram vôo, apesar de continuar pobre.
- Meu caro poeta, você me meteu nessa confusão e agora vai me tirar dela. Você me deu livros para ler. Ensinou-me a usar a língua não só para lamber selos. É sua culpa, eu estar apaixonado.
O filme terminou e levei as costas dos dedos até os cantos dos olhos na tarde cinzenta de domingo.
Bonito filme!
-Gustavo Hennemann-
1 Comments:
vc ñ me ajudou nem um pouco. eu queria saber como termiou o filme e ñ o que aconteceu no filme. masis msm assim me ajudou. poderia ter sido melhor.
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