segunda-feira, agosto 22, 2005

Literatura (2).

Corrupção, chantagem, denúncias contra os assessores do Presidente da República, políticos reclamando dos jornalistas. E a imprensa, por sua vez, trazendo, a cada dia, novas denúncias sobre a crise política. Aliás, as notícias são tantas que quem não lê o jornal do dia fica até perdido. A cada capítulo, um novo envolvido, inclusive aqueles cujos nomes eram até sinônimo de honestidade. Mas esses políticos são tão atrapalhados que deixam furos, muitos deles até inacreditáveis.


ESSES HOMENS DOS PRESIDENTES

Não, por incrível que pareça, não estou falando do Governo Lula, mas de uma série de fatos muito parecidos com os que estão desencadeando a nossa crise política atual. Os repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward relatam no livro “Todos os Homens do Presidente”, da Francisco Alves Editora, a cobertura que fizeram, pelo Washington Post, no chamado Escândalo Watergate, que ocorreu no governo do presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, entre 1972 e 1973.


Imagem do filme "Todos os homens do Presidente", de Alan J. Pakula, de 76.O roteiro do filme foi baseado no livro.

Tudo começa com um telefone que toca na madrugada, tirando Woodward da cama para cobrir um arrombamento na sede do Partido Democrata e, no desenrolar da história, diversas falcatruas vão aparecendo. A maior parte delas reveladas ao público pelo rigoroso trabalho desses repórteres, que foram muitas vezes ameaçados, desacreditados e ridicularizados na época.
Além de todas as dificuldades, chamam a atenção o trabalho de apuração da dupla, as reuniões com os editores, a relação com as fontes (quem nunca ouviu falarem no famoso e, até pouco tempo, anônimo Garganta Profunda, que, neste caso, não se trata de um filme pornô), até mesmo os erros, enfim, o clima de uma Redação inspirando lições de jornalismo. Inclusive aquelas que vemos nas aulas, como o fato de ser melhor procurar os entrevistados em suas residências, “onde se sentiriam mais à vontade para falar” ou as frases do Editor-Executivo do Post, Benjamin Bradlee, denotando o caráter factual do que é notícia: “A palavra ontem irá para os livros de História, não para um jornal”.

Semelhanças à parte com o contexto brasileiro, o papel da imprensa deles foi muito mais decisivo do que o da nossa. Enquanto quem larga as “bombas” aqui são os próprios políticos, lá eram os repórteres Bernstein e Woodward.Era senso comum, por exemplo, que o presidente não sabia de nada, até que esses jornalistas provaram o contrário.

Enquanto isso, vamos esperando os escândalos nossos de cada dia. Trazidos não pelos nossos jornalistas, mas talvez por um político que, sob pressão ou buscando uma redução de pena, nos traga notícias ainda mais bombásticas.


- Thaís Brugnara Rosa -