sexta-feira, setembro 30, 2005

Literatura (9)

Renovando atitudes


Com passagens muito bem escolhidas do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo", o livro "Renovando atitudes" não é apenas um livro auxiliar no processo de auto descobrimento, mas também um estímulo a repensar as atitudes diárias, em meio a situações de estresse e atribulações. Aliando os conhecimentos da doutrina espírita a uma linguagem bem trabalhada, Francisco do Espírito Santo Neto transcreve orientações de seu guia espiritual, Hammed, que auxiliam as pessoas a se libertarem dos esconderijos psicológicos nos quais vêm se escondendo; das clausuras que limitam a expansão de atitudes plenas e sadias.

O livro permite não apenas uma reflexão a cerca da vida, mas também uma melhor percepção da psiqué humana. Abordando os relacionamentos, os preconceitos e as dificuldades que fazem parte da nossa jornada, o livro ressalta a necessidade de sermos sinceros conosco mesmos, com as nossas idéias; livres de esteriótipos e de grilhões. Hammed ainda ressalta a necessidade do perdão, resultado da obra de um Deus que não é punitivo, mas sim, um Deus de amor, que nos permite reconhecermos nosso erros e corrigí-los. Por sermos dotados de um livre-arbítrio, nos é possível fazer tudo o que bem entendermos e definrmos nosso caminho, certos de que todo o plantado será recebido em uma colheita vindoura. Somos seres imperfeitos e unos, que julgam, sentem raiva e ódio, agressivos, individualistas e injustos; tudo resultado
de nosso constante processo de evolução. Um livro interessante e com uma visão bastante positiva a cerca da vida. Uma oportunidade de repensar nosso crescimento, nossas atitudes e perceber que somos seres com individualidades ímpares, mas com um
potencial evolutivo equitativamente igual.

-Cláudia Kessler-

quinta-feira, setembro 29, 2005

Cinema (5)

Cinema Paradiso

A paixão pelo cinema dá início a uma história verdadeira na Itália do pós Segunda guerra. Cinema Paradiso é uma produção italiana de 1988, dirigida por Giuseppe Tornatore.

A história é revelada através de um grande "flash-back" quando Toto (Salvatore), já adulto e cineasta de sucesso, é avisado da morte do velho amigo, Alfredo. Diante da notícia, Salvatore retorna à terra natal depois de anos. A escolha dos atores para a interpretação de Toto foi extremamente cuidadosa no que diz respeito à semelhança física. Os três possuem fisionomia parecida, o que mantém a identidade da personagem e passa credibilidade à história contada. É possível acreditar que ela poderia ser verídica.



Em uma pequena cidade da Sicília, antes do advento da televisão, um garoto encanta-se com o cinema local e trava amizade com o projecionista. Como houvesse perdido o pai na guerra e visse na figura de Alfredo um amigo paternal e engraçado, apesar de rabugento, Toto passa a "visitar" a sala de projeção. As visitas irritam Alfredo, pois há o perigo de que os rolos de filme incendeiem, ainda mais com uma criança curiosa mexendo em tudo. Toto teve seu primeiro contato com a sétima arte porque era coroinha e o padre era o censor da época, quem condenava todas as cenas de beijo.
Destaque para a emoção da cena de despedida de Salvatore, quando este vai para Roma tentar carreira de cineasta. Todos ficam na estação vendo o trem partir. Mas Alfredo, já cego por um incêndio no qual o garoto salvou sua vida, sabe que de nada adianta ficar amargando a saudade que se inicia. Salvatore estava partindo para não mais retornar à cidadezinha e correr o risco de fracassar. Decisão orientada pelo próprio Alfredo.

A sensibilidade de Tornatore ao contar essa história de amizade fez com que o filme fosse vencedor de vários prêmios e encantasse platéias do mundo todo. Ganhou, entre outros, o Oscar e o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro. O anuncio da morte do projecionista iniciar o filme poderia deixar a história desinteressante. Mas, ao contrário, Tornatore tece sua narrativa brilhantemente ao longo de 123 minutos e surpreende com um final carregado de emoção.

-Sabrina Siqueira -
Literatura (8)

Feliz Ano Velho

Eis que chego aqui. Após horas pensando sobre o que raios eu ia escrever para esse blog. Penso, penso e penso. E encontro a minha luz graças ao meu orkut. Dentre as minhas navegadas em busca de um tema, vejo em minhas comunidades a do escritor Marcelo Rubens Paiva e penso comigo: porque não escrever sobre um dos melhores livros que eu já li? E cá estou eu para falar sobre “Feliz Ano Velho”.

O livro de 1982 marcou uma geração. A linguagem urgente, a tensão e o personagem forte fizeram do livro um best-seller até hoje. “Feliz...” é uma autobiografia de Marcelo Rubens Paiva. Nada mais do que a história de um jovem que se depara com uma armadilha do destino e tem que aprender a viver com as suas “novas condições”.


O livro é uma louca aventura cheia de contexto histórico. Ao mesmo tempo em que Marcelo dá “um tapa” ou “um teço”, ele vê o pai ser levado de casa pelo regime ditatorial. O jovem é obrigado a conviver com a ausência do protetor que nunca mais voltou para casa. Esse fato gera um dos trechos mais lindos do livro na minha opinião. “Chegará o dia de quem desapareceu com Rubens Paiva, assim como chegará o dia dos que desapareceram com 20 mil na Argentina, porque esses desaparecimentos têm o mesmo significado. O sadismo de alguns imbecis que apenas por vestirem fardas e usarem armas se acham no direito divino de tirar a vida de uma pessoa, pelo ideal egoísta de se manter no poder. Mataram Rubens Paiva, Jesus Cristo, Che Guevara, Herzog, Santo dias, 20 mil na Argentina, 30 mil em El Salvador, mataram e deceparam Victor Jará. Mas nunca vão matar aquela esperança que a gente tem de um mundo melhor, que eu não sei direito como vai ser, mas tenho certeza de que gente tipo ‘oficial loiro de olhos azuis’, tipo Brigadeiro Burnier e tipo Médici não vai ter.”


Sim, sim quem não tem ideais esquerdistas em meio a uma ditadura militar? E ainda assim, não é preciso estar sob um regime autoritário para querer igualdade entre o habitantes deste planeta. Além dos trechos políticos e engajados que chamam muita atenção no livro, outros aspectos da vida do personagem principal e autor tornam a leitura extremamente divertida.


O autor


As milhares de aventuras sexuais de Marcelo com amigas, empregadas, conhecidas e sua maneira de encarar o sexo estando em uma cadeira de rodas nos mostra mais uma vez o lado dele que não se entrega aos problemas do destino.


Na minha singela opinião o livro é uma obra-prima, mas mais do que isso é um texto engajado com os problemas sociais da época, que não são muito diferentes daqueles que a gente enfrenta hoje. Recomendo a leitura e a reflexão. Não, Marcelo Rubens Paiva não é um exemplo de pessoa cuja biografia deva ser enquadrada na parede e seguida à risca. É um livro apenas, não se engane e não aumente as pretensões dele. Leia e aprenda por você mesmo.

P.S.: para o mestre Paulo Roberto Araújo: o Marcelo recebeu o prêmio Jabuti com o “Feliz Ano Velho”.

-Stefanie Carlan-

quarta-feira, setembro 28, 2005

Teatro (2), Literatura (7)

MacBeth

“Se houvesse uma catástrofe a qual dizimasse quase toda a humanidade, seria possível que os seres humanos sobreviventes analisassem ou reconstruíssem todos os sentimentos do homem a partir das 35 peças teatrais de Shakespeare.”
Pelo menos é isso que afirmam alguns de seus estudiosos e admiradores. Em MacBeth, uma de suas principais obras, não é diferente.



A peça conta a história de um homem chamado MacBeth, que por influência de três bruxas, decide matar o rei da Escócia (seu primo) com o intuito de assumir o trono.
Embora Shakespeare seja um autor pós-idade média (séc XV), em MacBeth pode-se notar claramente a influência do imaginário medieval. A presença de bruxas, com seus caldeirões dos quais saem criaturas com as mais variadas aparências e a aparição do fantasma de Banquo (amigo de MacBeth, a quem o protagonista manda assassinar, por ser uma ameaça as suas ambições) são apenas alguns exemplos dessa influência.


Embora não haja uma relação direta com a igreja Católica (uma das obsessões do mundo feudal) pode-se observar a semelhança com a passagem bíblica em que Eva, influenciada pela Serpente (o Diabo), faz com que Adão coma a maçã (símbolo do pecado) e seja expulso do paraíso. Na obra shakespeariana, Lady MacBeth invoca os espíritos malvados para convencer seu marido de que a morte do rei é indispensável.
Uma coisa que muitos não sabem é que MacBeth realmente existiu. Ele governou a Escócia por volta do ano mil e Shakespeare, como profundo conhecedor da história do Reino Unido, sabia disso. A diferença entre o Macbeht real e o criado pelo escritor inglês é que o primeiro foi um bom rei, que governou seu reino com bondade e justiça, ao contrário do (anti)herói da peça.




Apesar de ser escrito para ser encenado e de sua linguagem um pouco rebuscada, MacBeth é uma ótima forma de conhecer a obra de Willian Shakespeare.

-Ciro Oliveira-

domingo, setembro 25, 2005

Teatro.(1)

Augusto Boal, o criador do Teatro do Oprimido

Augusto Boal nasceu em 1931, no bairro da Penha, no Rio de Janeiro. Ele, que desde pequeno mostrava a sua paixão pelas artes cênicas, ao inventar suas próprias peças para apresentar para a família, hoje é reconhecido por ter criado a metodologia mais conhecida e praticada nos cinco continentes: o Teatro do Oprimido.


O espectador do TO sai da condição de ser apenas platéia, para se tornar protagonista da ação. Imagine a seguinte cena: dois personagens, um o opressor e o outro o oprimido, discutindo quem deve lavar a roupa suja. Ocorre um congelamento da ação para que o ator que assume o papel de “oprimido” dê lugar a algum espectador que deseje participar da briga. A intenção dessa troca de posições é que o indivíduo trabalhe os seus medos, ódios, ansiedades, indignações, etc, como num processo terapêutico, para tentar reverter essa relação de poder entre opressor e oprimido.


Esse método, que foi concebido em plena ditadura militar, tem por objetivo humanizar a humanidade e restaurar o diálogo entre os indivíduos. Além disso, ele busca ajudar homens e mulheres a desenvolverem o teatro que já trazem em si mesmos, uma vez que todo o ser humano é um ator, pois pratica a interpretação espontânea em cenas do cotidiano




Boal, que em 1992 foi eleito vereador da cidade do Rio de Janeiro pelo PT, ensina às pessoas como viver em sociedade por meio do jogo teatral. Ao mesmo tempo em que você está aprendendo a sentir, a pensar e a agir, você está sentindo, pensando e agindo. O Teatro do Oprimido nada mais é do que um ensaio para a realidade, em que os oprimidos são aqueles, por motivo social, cultural, político, econômico ou racial, desprovidos do direito ao diálogo.


Devido ao TO estar fundado nas causas humanísticas e democráticas, ele já é utilizado em todo o mundo na educação, na cultura, nas artes, em programas de alfabetização, na política, enfim, na maioria dos campos da atividade social. Inclusive está sendo usado no sistema penitenciário do Mato Grosso do Sul, a fim de levar à sociedade discussões sobre a realidade dos presídios e, dessa forma, encontrar meios para modificar essa realidade.

- Francine Flach -

sábado, setembro 24, 2005

Literatura (6)

A Sangue Frio

A história dos quatro membros da família Clutter, brutalmente assassinados, e dos dois criminosos, executados cinco anos depois.”



Se a capa do livro estampa o trágico final das principais personagens do livro, qual a graça de lê-lo? Basta mergulhar na primeira página da narrativa de Truman Capote para obter a resposta. As 432 páginas correm em frente aos olhos, que regozijam com a obra-prima que, segundo o próprio autor, inaugurou um novo gênero literário: o “romance de não-ficção”.


O objetivo de Capote era fazer uma reportagem sobre o assassinato do casal Clutter e seus dois filhos, ocorrido em 1959 numa cidadezinha do Kansas, Estados Unidos. Depois de ficar mais de um ano na região do crime, entrevistando os moradores e investigando as circunstâncias, o autor passou mais quatro anos apurando e escrevendo o relato completo em torno do brutal assassinato. Sem gravador ou bloco de notas, servindo-se apenas de sua incrível memória, Capote produziu um clássico do jornalismo literário.


A história contada com brilhantismo apresenta cartas, fotos e os mais ricos recursos narrativos para servir o leitor. As trajetórias de vida dos assassinos Perry Smith e Dick Hickcock são contadas com detalhes impressionantes, já que Capote obteve a amizade e a confiança de ambos que confidenciavam com ele em suas celas. O dia-a-dia da comunidade, os derradeiros instantes de cada vítima, a repercussão do fato, tudo é descrito nos mínimos detalhes.



O autor Truman Capote


Publicado em 1965 na revista The New Yorker, em quatro partes, e em livro no ano seguinte, “A sangue frio escancarou o lado sombrio do sonho americano do pós-guerra. As saídas são poucas, tanto para os assassinos, criados em um ambiente pobre e fraturado, como para a família, abastada e exemplar, cujo ideal de realização parece não ir muito além de assar tortas de cereja para a feira do condado.” (trecho da orelha do livro)

- Gustavo Hennemann -

segunda-feira, setembro 19, 2005

Depois de uma pausa causada por viagens do pessoal da turma e de organizações de escalas, o CULTURALHIA está de volta, firme e forte.

Literatura (5).

20 de Setembro, dia do Gaúcho.

"Quero salientar que nunca quis contribuir com a ampliação da mentira do monarca das coxilhas. Nunca trarei o gaúcho como personagem em estilo ufanista. Pelo contrário, procurei ser realista, para poder ser útil de alguma forma" (Cyro Martins).

Cyro Martins, gaúcho de Quarai, nasceu em 5 de agosto de 1908. Formou-se médico, mas as letras e a escrita o acompanharam desde os 15 anos, quando começou a escrever artigos e contos. Sua vida passou a se dividir, então, entre a Medicina e a Literatura: "Permaneço na condição de escritor bissexto, pois toda a minha literatura é feita no rabo das horas. O melhor das minhas possibilidades intelectuais foi consagrado à Medicina, em especial à Psiquiatria e à Psicanálise. Mas esta afirmação não significa menos ternura pelo que realizei no plano da ficção literária."

Seu livro de estréia foi “Campo Fora”, escrito em 1934. Sua consagração, no entanto, veio com a “Trilogia do Gaúcho a pé”: uma série de histórias que contam a expulsão de trabalhadores do campo, devido à modernização das estâncias, e a difícil adaptação à cidade.

A trilogia é formada pelos livros “Sem rumo”, “Porteira Fechada” e “Estrada Nova”, e pode-se perceber que há uma continuidade proposta: Sem Rumo trata do processo de expulsão do campo, Porteira Fechada mostra o momento de maior desespero do gaúcho a pé, e Estrada Nova já aponta um rumo, uma esperança para o gaúcho.

ilustração de Nelson Jungbluth para a trilogia


Comparações entre a obra de Cyro Martins e Erico Veríssimo (na sua obra-prima O Tempo e o Vento) são comuns, pois ambos partem do mesmo tema: o Rio Grande pastoril, das imensas fazendas. As diferenças, contudo, são percebidas inicialmente pelo fato de que na obra de Cyro Martins não há uma seqüência “familiar” e de “gerações” entre os três livros e seus personagens. Além disso, podemos perceber diferença ao olharmos o grupo social a qual pertencem os personagens: Erico trata da classe dominante, enquanto Cyro prefere falar dos peões, gaúchos que vagam sem destino pela campanha.

A obra de Cyro Martins diferencia-se das outras da sua época também por trazer à tona a transição da estrutura econômica, política e social pela qual o Rio Grande do Sul passava. Enquanto para outros autores, o tempo privilegiado era principalmente o da guerra e a Revolução Farroupilha, que foi o momento que assinalou o auge da bravura do gaúcho, Cyro buscou dar uma outra visão para os temas regionalistas.

Nesse 20 de setembro, em que muitos questionam se o gaúcho é realmente uma figura autêntica ou somente uma “farsa”, ler a obra de Cyro Martins pode ser um bom começo para formar uma opinião

- Luciane Treulieb -

domingo, setembro 04, 2005

Crônica.




Assim como aquele gato

Há quem não acredite e ria do que digo. Mas, há um traquina misterioso pelas estantes que acolhem os meus livros. Quando lembro desse maroto, lembro, também, de um gato chamado Mimoso, da minha adolescência. Mimoso sumia por dois ou três dias. À noite até ouvia seus miados. Depois retornava sujo e lanhado. Recebia comida, e passava o resto do tempo sobre o rádio de válvula ligado. Aproveitando o calorzinho.


Meus livros não reaparecem sujos e lanhados. Mas somem, e de repente lá estão na vertical, disfarçadamente entre outros. Muitas vezes, na horizontal, como se descansassem. Voltam empoeirados. Talvez do pó que entra pela janela, tão próxima à rua.


Não raro sou motivado a lembrar de um livro, corro a estantes. Onde está ele? Procuro. Me agacho, subo no banco, na escada. Procuro entre os que estão na mesa de cabeceira. Às vezes até na revisteira do banheiro. Nada.


Para citar dois exemplos. Tão logo anunciaram, discretamente para o meu gosto, que Nélida Piñon havia ganho o Prêmio Príncipe Astúrias de Literatura de 2005, fui ao reencontro dos exemplares de sua obra que tenho há algum tempo. Todos estavam lá, menos Pão de Cada Dia. Um livro de crônicas.


Será que o livro continua na farra, mais longa do que as de Mimoso? Viro, reviro. Nada. Encontro outros que estavam extraviados. O pão nosso, nada.


Neste dia bem característico de agosto (só falta o vento norte, e o cachorro louco), assisto pela televisão à primeira parte da , tão prometida, rara entrevista de Manoel de Barros. Esse poeta que prova que tudo serve à poesia.



Ali sentado, enquanto também observo os dois bem-te-vis tomarem banho na caixa d`água aberta da casa vizinha, assisto, com todos os ouvidos, ao poeta pantaneiro. Mal os pássaros abandonam a água, e os créditos do programa de tv desaparecem, vou até à estante onde aninha-se a poesia. Procuro daqui, procuro de lá. Nada. Acendo a lâmpada, apesar de ainda ser meia tarde do domingo de um sol quase quente. Nada. Sigo adiante. Na próxima estante, nada. Vou de livro em livro. A mesma coisa. Então desisto das poesias. Parto para a outra estante. Entre os romances também não está. E assim passo o resto da tarde. Manoel, Manoel onde estás? Não te escondas. Mais cedo ou mais tarde te acharei. Gostaria de achá-lo, agora, neste calor da hora. Nada. Manoel de Barros fica, então, naquela imagem da tv, entre a mulher e os filhos, dizendo "c´est fini".


O certo é desistir, por ora. Manoel de Barros aparecerá quando menos espero. Aí abrirei ao léu, em pé, o único livro que tenho dele. Lerei um verso, um poema. Quase todo o livro. Possivelmente será à noite. Certamente pelo início da madrugada, enquanto me dirijo ao sono, passando pelas estantes. O traquina fará Manoel me assoviar. Psiu, estou aqui. Assim como outros fizeram, quando voltaram de dias e noites de farras. Assim como aquele gato. Mimoso, no entanto, apesar de desaparecido, se anunciava em miados fortes por cima dos telhados, que ainda haviam na noite.

- Paulo Roberto Araújo -

sexta-feira, setembro 02, 2005

Notas do professor da disciplina, Paulo Roberto Araújo:

- A escritora Nélida Piñon, primeira mulher a presidir uma Acadêmia de Letras no mundo, receberá em outubro, na Espanha, o Prêmio Príncipe Asturias de Literatura, pela sua obra. Antes, recebe, no final de setembro, em São Paulo, o Prêmio Jabuti 2005 de romance, pelo seu mais recente livro Vozes do Deserto. O Jabuti é da Câmara Brasileira do Livro. João Gilberto Noll, com Lorde, ficou com o segundo lugar.

- Gabriel Garcia Marquez, com Memória de Minhas Tristes Putas, afastou Dan Brown (depois de mais de três anos) do topo das listas de best-sellers, no Brasil.

- O programa de rádio Palavra Falada, realizado pelos alunos da disciplina de Jornalismo Cultural, vai ao ar toda segunda-feira às 17:05 na Rádio Universidade 800 AM, com reprises às sextas-feiras no mesmo horário. O programa é um bate-papo sobre literatura.

quinta-feira, setembro 01, 2005

Literatura (4).


O clássico da Contracultura
O criador da geração beat.
O desencadeador da rebeldia de muita gente.
O precursor do movimento “paz e amor” .
O livro de ouro dos viajantes.
O chute nos bagos da felicidade inocente do pós-guerra.
O vilão do American way of life.
A babá de uma geração vazia


Poucos livros no mundo até hoje causaram e ainda causam tanto impacto nos leitores – principalmente em jovens dos 18 aos vinte e poucos anos - quanto On the Road, do americano Jack Kerouac, lançado em 1957. Mesmo no Brasil, em que primeira edição saiu em 1984, traduzida em conjunto pelo jornalista Eduardo Bueno e o escritor Antonio Bivar, ele inspirou músicas, pessoas, idéias, comportamentos – trouxe um alento de que as coisas poderiam ser mais interessantes também por aqui.



A prosa verborrágica de Kerouac, com frases longas, improvisadas, com pouca pontuação, datilografada nos mais variados quartos de hotéis e pensões dos EUA, parece ser escrita no compasso de um be-bop (estilo de jazz feito de muita improvisação), e com a dor e a sinceridade que a voz rouca da cantora Billie Holiday nos transmite quando canta sobre seus homens que não mais lhe querem.

Depois de quase 40 anos de espera, finalmente On the Road vai virar filme, pelas mãos do diretor brasileiro Walter Salles, com a produção do mestre americano Francis Ford Coppola.

O livro
No final dos anos 40 e início dos 50, nos Estados Unidos, Sal Paradise, o narrador (alter-ego do autor Jack Kerouac), e seu amigo , o louco anarquista vagabundo e futuro guru da geração beat ,Dean Moriarty, viajam pelos Estados Unidos com pouco dinheiro e muita vontade de fazer algo que eles nem sabem o quê. No caminho, passam pelos confins dos Estados Unidos inocentemente feliz e conservador do pós-guerra; encontram e fazem muitos amigos, passam dificuldades, bebem muito; fazem festas, visitam lugares esquecidos e conhecidos, ouvem muito jazz. Quase inconscientes pelo pusilânime mundo ao seu redor, vão em busca de experiências. As encontram travestidas de formas tão estranhas que quase não as reconhecem. Mas é isso mesmo? , perguntam. E é, é isso mesmo, mas como só agora vocês foram perceber ?

A busca da individualidade perdida , que parecia tão diluída entre os louros da camaradagem e do patriotismo da vitória na guerra, teve um quase fim (pois nunca terá um fim definitivo) nos clubes de jazz ao som do be-bop desordenado ou na marijuana trocada por lucky strikes no México na última das suas viagens, ou em muitos outros lugares percorridos pela dupla.
A rebeldia, como forma de ser contra ao tradicional, de dar um soco na cara da mesmice e depois ser presa por isso, nasceu de vocês.

E a literatura como forma de transcendência, aquela que pula das páginas para nosso corpo e mente e de lá sai correndo como um cadillac possante nos puxando para a vida, como que dizendo não, você é tão medroso, acorde, veja o que te espera, deve muito a você, Jack Kerouac.

A primeira versão do livro é de 1984, da editora Brasiliense. Recentemente saiu uma edição revisada com uma nova introdução e posfácio de Eduardo Bueno.



On the Road
L&PM Pocket, 386 páginas

- Leonardo Foletto -