segunda-feira, setembro 19, 2005

Depois de uma pausa causada por viagens do pessoal da turma e de organizações de escalas, o CULTURALHIA está de volta, firme e forte.

Literatura (5).

20 de Setembro, dia do Gaúcho.

"Quero salientar que nunca quis contribuir com a ampliação da mentira do monarca das coxilhas. Nunca trarei o gaúcho como personagem em estilo ufanista. Pelo contrário, procurei ser realista, para poder ser útil de alguma forma" (Cyro Martins).

Cyro Martins, gaúcho de Quarai, nasceu em 5 de agosto de 1908. Formou-se médico, mas as letras e a escrita o acompanharam desde os 15 anos, quando começou a escrever artigos e contos. Sua vida passou a se dividir, então, entre a Medicina e a Literatura: "Permaneço na condição de escritor bissexto, pois toda a minha literatura é feita no rabo das horas. O melhor das minhas possibilidades intelectuais foi consagrado à Medicina, em especial à Psiquiatria e à Psicanálise. Mas esta afirmação não significa menos ternura pelo que realizei no plano da ficção literária."

Seu livro de estréia foi “Campo Fora”, escrito em 1934. Sua consagração, no entanto, veio com a “Trilogia do Gaúcho a pé”: uma série de histórias que contam a expulsão de trabalhadores do campo, devido à modernização das estâncias, e a difícil adaptação à cidade.

A trilogia é formada pelos livros “Sem rumo”, “Porteira Fechada” e “Estrada Nova”, e pode-se perceber que há uma continuidade proposta: Sem Rumo trata do processo de expulsão do campo, Porteira Fechada mostra o momento de maior desespero do gaúcho a pé, e Estrada Nova já aponta um rumo, uma esperança para o gaúcho.

ilustração de Nelson Jungbluth para a trilogia


Comparações entre a obra de Cyro Martins e Erico Veríssimo (na sua obra-prima O Tempo e o Vento) são comuns, pois ambos partem do mesmo tema: o Rio Grande pastoril, das imensas fazendas. As diferenças, contudo, são percebidas inicialmente pelo fato de que na obra de Cyro Martins não há uma seqüência “familiar” e de “gerações” entre os três livros e seus personagens. Além disso, podemos perceber diferença ao olharmos o grupo social a qual pertencem os personagens: Erico trata da classe dominante, enquanto Cyro prefere falar dos peões, gaúchos que vagam sem destino pela campanha.

A obra de Cyro Martins diferencia-se das outras da sua época também por trazer à tona a transição da estrutura econômica, política e social pela qual o Rio Grande do Sul passava. Enquanto para outros autores, o tempo privilegiado era principalmente o da guerra e a Revolução Farroupilha, que foi o momento que assinalou o auge da bravura do gaúcho, Cyro buscou dar uma outra visão para os temas regionalistas.

Nesse 20 de setembro, em que muitos questionam se o gaúcho é realmente uma figura autêntica ou somente uma “farsa”, ler a obra de Cyro Martins pode ser um bom começo para formar uma opinião

- Luciane Treulieb -