segunda-feira, agosto 29, 2005

Por um erro de datas para se mandar os textos, o que era para ser atualizado ontem vai ser hoje, e o que era pra hoje, também!
Mas primeiro o de ontem.

Teatro (1)

A cultura gaúcha numa releitura teatral

Um espetáculo encantador. Assim eu, o comentário de alguns e os olhares de todo o público expressaram o que é o Timbre de Galo. A peça do grupo Viramundos – apresentada na tarde de quinta-feira no campus da UPF – além de provocar muitas risadas, desperta de um jeito caricaturado, por certas vezes até exagerado, a identidade cultural gaúcha. Falo da que se vê nos CTGs e outras instituições do gênero que promovem a imagem do gaúcho forte e destemido, herói e apaixonado pela sua prenda, e desta a mulher da "lida" mas que não perde seu "charme" e paixão pelo seu peão.

O espetáculo é uma adaptação da obra de João Simões Lopes Neto – Contos gauchescos e lendas do sul. Por isso, tem o "tal de Blau Nunes" como personagem principal, contador de causos, conquistador da prenda, temido pelos inimigos, herói de guerra – e mentiroso, claro.




Os 50 minutos da peça giram em torno da procura pelo tal Blau Nunes. A adaptação sugere que ele anda perdido pelos pampas. Para encontrá- lo, a história dele é relembrada e diferentes atores o interpretam nos diversos momentos da vida de Blau. As bombachas estilizadas, as cores vibrantes, os vestidos das prendas – curtos, retalhados, decotados – longe de se parecerem com os tradicionais, pernas de pau, cavalos de arame, maquiagens fortes, contribuem na construção de um cenário pitoresco e muito diferente do que em geral se vê.

Achei até que a imagem montada pelo Viramundos poderia irritar os tradicionalistas mais fiéis. Falei com uma menina de 16 anos, que participa dum CTG de Passo Fundo. Ela adorou a peça e diz que se identificou com o que foi apresentado. "Eles (Viramundos) dão valor ao que muita gente não dá, que é a cultura gaúcha". O diretor de produção do grupo, Guto Pasini, disse que os tradicionalistas "geralmente são os que mais gostam" da proposta.

Depois de muita música (os atores cantam e tocam gaita, castanholas, violão, tambores), dança, poesias, causos e risadas, o fim (posso contar?) sugere que o Blau está em todos os que estão ali. "A cada história contada, a cada música tocada, aí estará Blau Nunes, voltando uma vez mais na vida, trazendo luz para a memória e estrela para a imaginação."

Eu adorei. Ri e me arrepiei muitas vezes. Tudo encanta. Sem falar na proposta do Viramundos, que é rodar o país num ônibus e fazer dele os palco para esta arte tão encantadora que é o teatro.

-Danuza Facco Mattiazzi-

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

DanuZa, aqui vão comentários aleatórios:

- Como comentei no post da Danusa... não gosto de textos com tons de diário, como "Eu adorei. Ri e me arrepiei muitas vezes. Tudo encanta" e "Um espetáculo encantador". É algo muito pessoal, foge ao jornalismo, mesmo ao literário.

- "Achei até que a imagem montada pelo Viramundos poderia irritar os tradicionalistas mais fiéis". Bem, achismo não vale, né? E formular a matéria assim me lembra do cara que fez o documentário do Michael Jackson e se mostrava no carro, senhor da razão, pensando, enquanto uma voz narrava: "Achei que havia algo errado nas atitudes do Michael. Como pode ele fazer tal coisa?".

- Cuide com a exatidão das palavras e o modo de constuir as frases. Veja que, por exemplo, "despertar" não é o melhor verbo para falar da identidade cultural gaúcha. Há outros trechos assim, frágeis no texto.

- Adorei a tua proposta de problematizar a questão, não falar apenas da peça. É por aí, no meu ver que a gente tem de ir.

Beijão, DanuZa. É um bom começo. Parabéns!!!

3/9/05  

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