quinta-feira, setembro 29, 2005

Literatura (8)

Feliz Ano Velho

Eis que chego aqui. Após horas pensando sobre o que raios eu ia escrever para esse blog. Penso, penso e penso. E encontro a minha luz graças ao meu orkut. Dentre as minhas navegadas em busca de um tema, vejo em minhas comunidades a do escritor Marcelo Rubens Paiva e penso comigo: porque não escrever sobre um dos melhores livros que eu já li? E cá estou eu para falar sobre “Feliz Ano Velho”.

O livro de 1982 marcou uma geração. A linguagem urgente, a tensão e o personagem forte fizeram do livro um best-seller até hoje. “Feliz...” é uma autobiografia de Marcelo Rubens Paiva. Nada mais do que a história de um jovem que se depara com uma armadilha do destino e tem que aprender a viver com as suas “novas condições”.


O livro é uma louca aventura cheia de contexto histórico. Ao mesmo tempo em que Marcelo dá “um tapa” ou “um teço”, ele vê o pai ser levado de casa pelo regime ditatorial. O jovem é obrigado a conviver com a ausência do protetor que nunca mais voltou para casa. Esse fato gera um dos trechos mais lindos do livro na minha opinião. “Chegará o dia de quem desapareceu com Rubens Paiva, assim como chegará o dia dos que desapareceram com 20 mil na Argentina, porque esses desaparecimentos têm o mesmo significado. O sadismo de alguns imbecis que apenas por vestirem fardas e usarem armas se acham no direito divino de tirar a vida de uma pessoa, pelo ideal egoísta de se manter no poder. Mataram Rubens Paiva, Jesus Cristo, Che Guevara, Herzog, Santo dias, 20 mil na Argentina, 30 mil em El Salvador, mataram e deceparam Victor Jará. Mas nunca vão matar aquela esperança que a gente tem de um mundo melhor, que eu não sei direito como vai ser, mas tenho certeza de que gente tipo ‘oficial loiro de olhos azuis’, tipo Brigadeiro Burnier e tipo Médici não vai ter.”


Sim, sim quem não tem ideais esquerdistas em meio a uma ditadura militar? E ainda assim, não é preciso estar sob um regime autoritário para querer igualdade entre o habitantes deste planeta. Além dos trechos políticos e engajados que chamam muita atenção no livro, outros aspectos da vida do personagem principal e autor tornam a leitura extremamente divertida.


O autor


As milhares de aventuras sexuais de Marcelo com amigas, empregadas, conhecidas e sua maneira de encarar o sexo estando em uma cadeira de rodas nos mostra mais uma vez o lado dele que não se entrega aos problemas do destino.


Na minha singela opinião o livro é uma obra-prima, mas mais do que isso é um texto engajado com os problemas sociais da época, que não são muito diferentes daqueles que a gente enfrenta hoje. Recomendo a leitura e a reflexão. Não, Marcelo Rubens Paiva não é um exemplo de pessoa cuja biografia deva ser enquadrada na parede e seguida à risca. É um livro apenas, não se engane e não aumente as pretensões dele. Leia e aprenda por você mesmo.

P.S.: para o mestre Paulo Roberto Araújo: o Marcelo recebeu o prêmio Jabuti com o “Feliz Ano Velho”.

-Stefanie Carlan-

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Stefanie, prefiro Feliz Ano Novo, do Rubem Fonseca.Mas, valeu o teu texto.

Abraço

29/9/05  

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