sábado, outubro 20, 2007

Estereótipo

 
 
 
 
 
 
 
 
 

Meu Brasil, brasileiro

 
De acordo com o sistema nervoso central da era da informação, o Google, estereótipo é a imagem preconcebida de determinada pessoa, coisa ou situação.
 
Há alguns anos um episódio do seriado Os Simpsons teve a felicidade de deixar alguns cidadãos cariocas, a Riotur e ainda de quebra o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, bastante irritados. O episódio "Blame it on Lisa" mostra a família Simpson detonando (o) no Brasil. Entre as imagens que incomodaram as autoridades estão: Bart tentando aprender espanhol para se entender com os brasileiros; um  ajudante de hotel fazendo embaixadinhas com as malas; uma apresentadora de um programa de TV infantil se exibindo para "maiores de 18"; uma incursão de Homer por uma favela carioca infestada por ratos e por "trombadinhas"; Homer sofrendo um seqüestro relâmpago; Bart sambando dentro de uma sucuri amazônica  em pleno carnaval carioca, pois afinal, no Brasil, tudo termina em samba.
 
É compreensível que o nosso estimado presidente Fernando Henrique Cardoso tenha exigido do canal Fox desculpas pelas "barbaridades" que a família amarela fez ao nosso tão amado país. Afinal, nenhum americano pensa que a capital do Brasil é Buenos Aires e que aqui se fala espanhol; assim como é um absurdo dizer que o brasileiro é apaixonado por futebol, sendo que adotamos a peteca como esporte nacional; grave mesmo é mostrar nossas favelas repletas de sujeira e de criminosos, quando todos os dias a nossa TV mostra que a realidade é outra: as crianças não passam fome e não se ouve um tiro no morro da Rocinha; assalto e seqüestro são outra coisa que está muito distante da realidade de um país de primeiro-mundo como o Brasil, se os americanos ainda não sabem, aí vai uma informação: de acordo com o mais recente relatório dos relatórios da ONU, os índices de assassinato do brasileiro estão se tornando suíços; é o paraíso abaixo da linha do Equador. Tentar denegrir a imagem das nossas apresentadoras infantil é um sacrilégio, afinal as crianças nunca viram a pinta da Angélica e nem o rebolado da Rainha dos baixinhos. O pior de tudo eles deixaram para o final: onde já se viu dizer que sucuri come gente. Não há caso registrado de uma bizarrice dessas no Brasil, não há nem mesmo caso de sucuri no Brasil. E dizer que tudo termina em samba, em pleno carnaval, é o insulto final ao país do tango.
 
As autoridades brasileiras que criticaram a postura do episódio de Os Simpsons no Brasil alegaram que o desenho disseminava "inverdades" e "estereótipos" sobre o país. Se este foi o caso, a Riotur deveria transferir grande parte da sua verba de propaganda para os cofres da Fox, uma vez que a Riotur não faz outra coisa a não ser vender "inverdades" e "estereótipos" para turistas estrangeiros. O que se viu em Os Simpsons é apenas uma construção bem mais inteligente do mesmo material que vemos na TV e nos anúncios das companhias de turismo: praia, sol, mulheres seminuas, Amazônia, onça, mulheres seminuas na praia, onça, Amazônia, mulheres seminuas no sambódromo rebolando ao som da bateria da Mangueira. Não sei como o presidente Fernando Henrique Cardoso não exigiu desculpas por parte da Embratur e da Riotur por exportar tantas "inverdades" e "estereótipos" do Brasil para o mundo. Vai ver porque ele sabe o quanto uma imagem preconcebida de uma pessoa, coisa ou situação rende aos cofres de um país. Ou talvez ele não saiba, pois se não teria contratado Matt Groening (criador de Os Simpsons) para ser diretor da Embratur.
Na última Copa do Mundo a Rede Globo levou, além dos milhares de equipamentos, uma escola de samba para a Alemanha. Quando as câmeras da Globo focavam a torcida brasileira buscavam logo a imagem de morenas com roupas carnavalescas e loiras vestidas de índio (que provavelmente conheciam a cultura indígena tanto quanto as alemãs).
 
A ironia é que qualquer brasileiro pode mostrar a bunda ou dizer em português e com imagens made in Brazil  que as brasileiras mostram a bunda. Agora se isto é dito por um estrangeiro é entendido como uma "ofensa". Neste sentido, algum deputado deveria propor uma lei de que só o brasileiro tem direito a "ofender" a nação.
 
Reclamar de um desenho animado que tem como própósito debochar de tudo e de todos (principalmente dos norte-americanos) é no mínimo uma ignorância e no máximo uma hipocrisia, sendo que a maioria dos brasileiros não conhecem nada além de um estereótipo de si mesmos e do Brasil. 
 
Maicon Antonio Paim
 
 
 
 

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