segunda-feira, outubro 10, 2005

Literatura (11)

Artigo

ESPERAMOS O NOBEL

Amanhã, terça-feira, a Real Academia Sueca confirma se anunciará na quinta o nome do Nobel de Literatura de 2005.

Já é hora de um brasileiro ganhar. Mas, parece que não é fácil. Só existe um escritor de língua portuguesa merecedor, por enquanto: José Saramago? Em inglês, espanhol já houve vários, para não dizer muitos.

Na América espanhola, o Chile tem dois de Literatura. Os dois para poetas: Gabriela Mistral e Pablo Neruda. Na Guatemala há o prêmio para Miguel Angel Asturias. Na Colombia: Gabriel Garcia Marquez. Houve tempo em que o peruano Mário Vargas Llosa sempre era cogitado. Jorge Luis Borges e Júlio Cortázar na Argentina não ganharam. Ernesto Sábato ainda não. Augusto Roa Bastos no Paraguai e Manuel Scorza, também no Peru, morreram e nada.O poeta e ensaista mexicano Octávio Paz ganhou um Nobel.


No Brasil há escritores merecedores de um prêmio desses. Além da quantia em dinheiro, principalmente projeta um nome, um país, uma literatura. A editora de Jorge Amado batalhou mas não conseguiu. Talvez fosse o escritor brasileiro mais conhecido no exterior, mas há outros grandes. Talvez maiores. Por que um deles não receberia o Nobel de literatura em 2005?

Se eu fosse da academia sueca, escolheria Nélida Piñon. Aproveitaria que estará em Espanha, para receber o Astúrias, e já iria até Oslo. Os prêmios são entregues em 10 de dezembro, aniversário da morte de Alfred Nobel.

Mas, se um brasileiro não ganhar... há um merecedor, que sempre tem aparecido na lista dos favoritos, Ismail Kadaré. Foi nele que Walter Salles Júnior inspirou-se para fazer Abril Despedaçado. O albanês, que por muito tempo esteve exilado em Paris, tem outros livros editados no Brasil. A Ponte dos Três Arcos, Os Tambores da Chuva, Dossiê H, O Palácio dos Sonhos, Concerto no Fim do Inverno. Há poucas semanas foi lançado aqui: O General do Exército Morto, obra que lhe deu notoriedade internacional. Um general italiano, acompanhado do capelão militar, é designado, 20 anos depois, para buscar os restos mortais dos soldados do seu país vencido numa das batalhas da Segunda Guerra Mundial na Albânia. Acompanhar o militar e o padre (que encontram um outro general, mas alemão, e um prefeito albanês) nessa busca por covas muito fundas em cemitérios, que não existem mais ou onde nunca fora campo santo, é conhecer uma narrativa brilhante que sempre está na obra de Kadaré.

Às vezes o Nobel de literatura vai para as mãos de alguém que ainda não fora traduzido para o português. Tão logo ganha, as editoras se apressam. Ao lê-los, no entanto, ficamos perguntando o por que da honraria. Mesmo que sempre sejam apresentadas justificativas oficiais.

Em 2003, foi diferente com o sul-africano J. M. Coetzee. Aqui havia várias obras traduzidas. Mesmo premiado seus livros demoraram nas prateleiras. Há belas leituras. Entre elas: Vida e Época de Michael K, Desonra, Juventude. Em 1991, a literatura da África do Sul ficara mais evidente para o mundo com o Nobel de Nadine Gordimer.

O ano passado foi a escritora austríaca, Elfriede Jelinek. Com fobia social não foi receber o prêmio. Há um filme, A Professora de Piano, adaptado de um dos seus romances, por Michael Haneke. No outubro de 2004 os jornais brasileiros publicaram textos dela nos cadernos culturais. Nada demais.

Que anunciem o Nobel de Literatura de 2005. Se não for alguém das letras brasileiras, que seja Ismail Kadaré. Há, entretanto, especulações de que a academia poderia outorgar o prêmio a um crítico literário ou jornalista. De qualquer forma o vencedor tem que estar pelo menos dois anos seguidos na lista cada vez mais sigilosa dos acadêmicos. Eles garantem que critérios como sexo ou geografia não influenciam a votação final.

- Paulo Roberto Araújo-